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LANÇAMENTO EM BREVE!

O PROFESSOR E O

ENSINO RELIGIOSO

NA REDE PÚBLICA MUNICIPAL DE RECIFE

JANY ROSARIA BARROS NASCIMENTO

Este livro baseia-se na dissertação de Mestrado em Ciências da Religião defendida na Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP) por Jany Rosaria Barros Nascimento. Jany é uma das pessoas mais fortes e serenas que já conheci nesta vida e, de fato, é preciso reunir essas virtudes em equilíbrio para enfrentar o tema do trabalho: o Ensino Religioso e, mais propriamente, a formação de professores da disciplina na Rede Municipal do Recife. Com acerto, o título que ela escolheu para a pesquisa foi “Ensinar catecismos ou desenvolver aprendizagens críticas sobre conhecimentos espirituais da humanidade”, porque foi nessa encruzilhada político-pedagógica a que chegou, após recuperar a história do Ensino Religioso no Brasil, analisar os passos e impasses dessa aplicação escolar dos estudos de religião em Pernambuco e avaliar a proposta de Ensino Religioso e de formação dos seus professores no Recife. O fio que percorre a pesquisa de Jany é a transformação do perfil do Ensino Religioso em nosso país e, por conseguinte, em nossa cidade. O Ensino Religioso dividido entre confissões e Igrejas sacralizava distinções hierárquicas que são ao mesmo tempo religiosas e de classe, raça e gênero, gerando desrespeito nas escolas e reificando violências na sociedade. Mas, com efeito, essa disciplina vem assumindo a responsabilidade de oportunizar o acesso aos saberes e conhecimentos produzidos pelas diferentes culturas e cosmovisões, religiosas e pós ou não-religiosas, enquanto patrimônios culturais da humanidade. Os professores de Ensino Religioso bem formados buscam, então, desconstruir significados e experiências colonialistas de religião, reconstruindo atitudes de valoração e respeito às diversidades religiosas e espirituais. O Ensino Religioso visa, assim, a problematização das relações de saberes e poderes de caráter religioso, não tem mais a ver com a expansão de Igrejas nem com a educação religiosa, mas com a formação cidadã. O Ensino Religioso, conforme propõe agora a Base Nacional Comum Curricular do Ministério da Educação, traduz pedagogicamente em processos de aprendizagem os conhecimentos transversais das Ciências da Religião, articulados em unidades temáticas que tratam de identidades e alteridades, manifestações religiosas, e crenças religiosas e filosofias de vida. Segundo tal concepção, a religião deve ser tratada na escola como objeto de estudo que contribui com a formação geral do cidadão, em um exercício de ciência a ser feito com os estudantes sobre as religiosidades e espiritualidades em suas expressões simbólicas e valorativas. Trata-se de uma educação “sobre” a religião e “da” espiritualidade, que difere da educação “para” a prática religiosa - o que compete às confissões religiosas e vivências familiares. O Ensino Religioso, conforme suas Diretrizes em Pernambuco e no Recife, longe de um modelo confessional ou interconfessional, deve tratar pedagogicamente das atitudes de descentramento, abertura e cuidado para além de si, que existem entre e para além de todas as tradições religiosas e filosóficas, deve resgatar os valores humanos que as espiritualidades podem trazer para a educação. Não se trata mais de transmissão de doutrinas ou mesmo de reflexões de uma antropologia teológica interconfessional, tecida por acordos eclesiais, mas do desenvolvimento de processos republicanos de aprendizagem crítica sobre espiritualidades religiosas e não religiosas da humanidade. Produzir esses conhecimentos nas Ciências da Religião, pois, e traduzi-los para o Ensino Religioso, implica em revestir de caráter transdisciplinar essa velha disciplina e significa romper com o conteudismo abstrato e fragmentado e gerar processos de aprendizagem colaborativos e compromissados, através de projetos de pesquisa das experiências espirituais - e de engajamento no seu esclarecimento e terapeutização. Os professores, nessa perspectiva, e esta foi a principal preocupação da pesquisa de Jany, precisam compreender a situação social e religiosa dos estudantes a fim de construir com eles conteúdos programáticos contextuais para o Ensino Religioso. O docente precisa interagir criticamente com o contexto concreto das religiões na vida dos educandos em seus aspectos desumanizadores e opressivos, promovendo uma tomada de consciência desmistificadora das religiões. Mas o Ensino Religioso deve promover também uma ação educativa esperançosa, em que o anúncio de experiências mais autênticas de sagrado desempenha um papel reconstrutivo e transformador das vivências religiosas. A recuperação histórica e avaliação sistemática empreendida por Jany da formação dos professores em nossa região, certamente colabora para localizar impasses e marcar novos passos na direção de um Ensino Religioso como aprendizagem crítica sobre conhecimentos espirituais da humanidade. Com o maior orgulho de ter acompanhado essa pesquisa acadêmica, tenho o grande prazer de apresentá-la, como livro, para um público mais amplo. Vai interessar, sobremaneira, aos colegas professores e coordenadores de Ensino Religioso. Cada vez mais eles acorrem aos nossos cursos de Ciências da Religião na UNICAP, seja de Licenciatura EaD, seja de Mestrado ou Doutorado. Muitos já dão aulas nos lugares mais distantes da cidade, fazem atividades a distância pela internet e participam de eventos e grupos com a gente no campus, pessoal maduro e compromissado que replica os nossos fóruns inter-religiosos nas feiras de conhecimento das suas escolas e ONGs. O trabalho de Jany Nascimento, como um novo filho que ela gera para o mundo, vai ajudar os colegas a se situarem em um percurso que remonta às apostilas da velha e querida Irmã Visitácio e enseja hoje trilhas complexas de formação, abertas ao infinito e além. Agora, tudo depende da gente!

 

Gilbraz Aragão.

Professor da UNICAP, coordenador do Observatório

Transdisciplinar das Religiões no Recife.

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